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LuxSalus.blogspot.com/Terapia da Escrita IV

Um caminho para podermos trabalhar os sentimentos e emoções que quando exacerbados provocam o stress: fonte primeira da existência de desequilibrios que acabam por produzir "doentes". Muitas vezes, a nossa necessidade fundamental é somente sermos ouvidos, pois falando (ou na presente situação: escrevendo), podemos analisar aquilo que sentimos e assim entender mais claramente os motivos de nossos problemas.

COMO PARTICIPAR

Observe o número que antecede a situação; se julgar que o seu problema é semelhante, indique o número e relate-o detalhadamente no e_mail, se possível e se esse for o seu desejo.

Se você quiser desenvolver seu personagem, também é possivel, mas é necessário que você nos informe e posteriormente acompanhe o desenvolver e a estrutura da estória.

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ADVERTÊNCIA

O CONTEÚDO DESTE TEXTO É INADEQUADO PARA MENORES DE 14 ANOS.CONTÉM PALAVRAS DE BAIXO CALÃO, DESCRITIVOS SENSUAIS E DE VIOLÊNCIA.

Terapia da Escrita IV - Era Uma Vez (cont.)

XVII

O sargento Sillas fica olhando Lúcia se afastar e entrar no edifício: - é uma mulher charmosa e muito simpática... Pena (309) que leve essa vida desregrada!

Mal ele começa a acelerar o carro, vê Lúcia sair correndo do edifício, olhando para os lados como a procurar alguém Ele para, desliga a viatura e vai em direção de Lúcia:

-o que é que houve Lúcia? Há algo errado?

-Meu Deus! Sim sargento! Meu filho Toninho, (310) não está em casa; minha mãe viu ele entrando em um carro e ainda não voltou...

-Qual a idade dele Lúcia?

-Ele está com nove anos... meu Deus, me ajuda!

-Fique calma Lúcia! Nós o encontraremos! Veja com sua mãe como ele estava vestido e se você tiver uma foto recente, traga para mim.

(311) Bastante nervosa, Lúcia retornou ao apartamento e poucos minutos depois voltou com uma foto na mão; entregou ao sargento e disse-lhe como o menino estava vestido.

- Bom Lúcia, para não nos precipitarmos, rapidamente conte-me a respeito de seus relacionamentos, da amizades de vocês, se existe alguma ameaça ou coisa parecida; sobre o pai do teu filho e outras coisas que nos possam ajudar. Enquanto você me fala, circulamos de carro aqui por perto para ver se o encontramos.

Com lágrimas nos olhos, Lúcia murmura: (312) obrigada sargento! Deus te abençoe pelo que esta fazendo!

Enquanto circulam, Lúcia conta sua história: - há alguns anos, eu tinha então (313) 17 anos, meu pai nos abandonou e nos deixou sem nada; minha mãe começou a trabalhar de diarista, pois ela não sabia fazer nada além dos serviços domésticos. Eu estava me preparando para entrar na faculdade e (314) tive que parar com tudo. (315) Revoltada com aquela situação, comecei a (316) andar com uma turma da pesada e foi aí que conheci Brilhoso...

- Brilhoso, o cafetão? Pegunta o sargento Sillas.

-Ele mesmo, sargento. Na época, eu não sabia bem qual era a dele, mas (317) ele veio a mim, como querendo me ajudar; ele é um homem bonito, se veste bem e só anda de carro novo...

-(318) Aí você caiu na lábia dele...

-(319) Exato! Eu era inexperiente, burra mesmo! Deixei me levar pela conversa dele; não demorou muito para que (320) eu fosse para a cama com ele e, (321) apesar dos avisos e pedidos da minha mãe, eu achava que estava me dando bem, até que, (322) engravidei. Quando fiz os exames e confirmei minha gravidez, fui correndo até o escritório dele toda feliz, para (323) lhe contar que ele seria pai... foi aí que começou meu calvário! Assim que terminei de contar que ele seria pai, (324) levei uns tapas pela cara, enquanto ele gritando me dizia: (325) - sua estúpida! Vagabunda inútil, por que não se cuidou? Eu te dou dinheiro prá que? Eu devia te matar! Puta de merda!

-(326) Naquela tarde eu apanhei bastante. (327) Ele não conseguia se conter; eu só estou viva, porque aconteceu um problema e ele teve que sair, mas disse que quando voltasse, acertaria tudo de uma vez por todas. (328) Assustada e com medo, tão logo ele saiu, lavei meu rosto que estava todo ensangüentado e sai correndo para casa; contei tudo para minha mãe e (329) decidimos ir para casa da minha tia, no interior. Lá fiquei até que Toninho tivesse um ano; acreditava que Brilhoso já tinha me esquecido e como as coisas também estavam difíceis lá, decidimos voltar para cá. Ficamos alguns meses sem sermos incomodadas, até que uma noite ao voltar do trabalho na lanchonete, os capangas do Brilhoso me pegaram no meio do caminho e me levaram até ele. Quando entrei, na primeira sala estavam o irmão do Brilhoso, que chamam de Nugget, minha mãe e meu filho. Nugget só olhou prá mim e disse: - ele está te esperando lá na biblioteca! Nem pare aqui! (330) Assustada, fui até Brilhoso, cujos olhos brilharam ao me ver!

-(331) É esse menino que você diz ser meu filho, sua piranha?

-Eu digo não! É! De verdade! Porque você acha que (332) eu mentiria?

-Não digo e não acho; ele até que é bem parecido comigo! É bonito, forte... mas eu não pedi um filho, sua vagabunda e, de verdade (333) o quero longe de mim! Mas você mexeu comigo e, se quiser continuar com o seu filho, (334) vai ter que me pagar o que me deve.

-O que é que eu te devo? Nada te devo! Você nunca me deu nada...

-E esse menino, piranha, o que é? Filho do espirito santo?

-Mas você é louco?

-Cale-se! (335) A partir de hoje você começa a trabalhar para mim; sempre que a Juliana agendar um compromisso para você, ela vai te ligar e informar o endereço; compareça e (336) faça o trabalho direitinho; depois passe no bar e deixe (337) o que receber com ela. Se você falhar, me enganar ou tentar fugir, eu vou te encontrar (338) e você nunca mais verá o teu filho! Assim, (339) pela vida do meu filho tenho me sujeitado a tudo isso até hoje.

-E você acha que Brilhoso tem algo a ver com o sumiço do teu filho, Lúcia?

-Acho que sim! Na hora que estava indo levar o dinheiro no bar, aconteceu tudo aquilo e vocês (340) me mantiveram detida; ele deve ter pensado que eu estava planejando fugir e raptou meu filho...

Lúcia não conseguia (341) mais continuar falando; lagrimas começaram a escorrer pela sua face. O sargento Sillas a olhava sentindo (342) um misto de pena, admiração e culpa por, de certa forma, ter contribuído por aquela situação.

-Aonde ele levaria seu filho a uma hora dessa?

-Provavelmente ao bar, sargento!

-Então vamos até lá e se o seu filho estiver com ele... me diga: ele reconheceu o menino como filho?

-Nunca!

-(343) Bom Lúcia, se Brilhoso foi burro o suficiente para raptar uma criança e ainda mantê-la em um bar a esta hora, nós estamos com sorte! Com muita sorte! Mas para que tudo saia direitinho, antes de mais nada vamos até a delegacia conversar com o Dr. Vasquez, que é quem cuida de seqüestros

-Sargento! Será que meu filho corre perigo?

-Não se preocupe! Temos experiência suficiente para tratar desses casos.

Minutos após, o sargento Sillas e Lúcia estão conversando com o delegado: - bom, se o que vocês me contaram é o que está acontecendo mesmo, temos grandes chances de colocar esse marginal atrás das grades; me aguardem só um pouco, quero ver o que é possível fazer!

Pouco depois, o delegado retorna dizendo: - já conversei com o juiz e ele emitiu um mandado, na verdade, dois; assim uma equipe irá para a casa de brilhoso e outra para o bar... só espero que vocês estejam certos! Porque, senão, pode colocar a vida do menino em risco. Vamos lá! Ah, sim! Chegando no local, a senhora permanece na viatura com o sargento e por favor, evitem que o Brilhoso ou algum comparsa a veja dona Lúcia: (344) a vingança pode ser terrível!

Lúcia parecia estar (345) vivendo um pesadelo onde a qualquer momento um buraco se abriria e ela seria sugada; aquilo tudo era terrível demais, pensava ela.

O sargento parou a viatura na mesma rua do bar, mas longe o suficiente para proteger Lúcia, conforme orientações do delegado. Assim de longe, eles acompanharam toda a ação.

Não demorou muito para que Brilhoso e seus capangas saíssem algemados e alguns segundos após, o delegado trazendo pelas mãos, Toninho.

Tão logo, o camburão se afastou, o delegado passou um rádio para o sargento informando que tudo havia terminado e estava bem.

(346) Chorando e sorrindo ao mesmo tempo, Lúcia não sabia o que fazer; apenas abraçou o sargento Sillas e murmurou: (347) - obrigada! De todo o coração, obrigada!

O sargento nada respondeu; ligou a viatura e foi ao encontro deles.

(348) Lúcia ao ver seu filho saiu correndo da viatura e abraçou seu filho como se há muitos anos não o visse; o sargento estendeu a mão ao delegado agradeceu pela ajuda.

-Não há porquê sargento! Desta vez, conseguimos com chave de ouro, mas a cela ainda precisa ser fechada e para isso precisaremos da ajuda da Lúcia; peça a ela para passar na delegacia amanhã às 15 horas que estarei aguardando. (349) O depoimento dela é fundamental para deixar esse escroque preso por muito tempo.

O delegado foi para a delegacia e o sargento levou Lúcia e seu filho até a casa deles. Quando estavam se despedindo, o rádio começou a transmitir: era o delegado!

-Sargento Sillas, acabou de ocorrer um ataque ao camburão onde estavam Brilhoso e seus capangas; foram todos mortos! Provavelmente (350) queima de arquivo; ele devia saber alguma coisa importante que não podia ser revelada. Um dos soldados saiu ferido e o outro infelizmente morreu...

(351) A alegria novamente deu lugar à tristeza e Lúcia olhando para o sargento disse: - sinto muito por seu colega! Vou rezar pela sua alma pois ele ajudou a devolver o meu filho, que é a minha vida e isso não tem preço!

O sargento bastante abatido disse: - faz parte da nossa profissão a dor da perda; o que nos consola é que pelo menos um pouco de justiça é feita.

XVIII

Após deixar Lúcia e o filho em casa, o sargento Sillas vai para o quartel pois sabe que sua próxima missão será uma das mais difíceis: (352) informar à família a respeito do acontecido.

No dia seguinte, quando estava saindo do quartel para ir ao cemitério, foi chamado por um dos soldados: - sargento, telefone par ao senhor.

Droga! Logo agora; acho que... não! Não! Deixa eu atender logo essa droga, pensava o sargento.

-Pronto! Sargento Sillas falando!

Do outro lado, uma voz suave e delicadamente triste se manifestou: - sargento Sillas, é a Lúcia! Sargento, o senhor poderia me dizer onde está sendo realizado o velório do soldado Fabrício, gostaria muito de estar presente...

O sargento, (353) surpreso e contente com a atitude de Lúcia, respondeu: - Lúcia, estou indo para lá nesse momento! Se desejar pode ir comigo...

Eu fico muito agradecida... é muito importante para mim e se o senhor puder me levar mais o Toninho vai ser muito bom.

Assim, após se encontrarem foram para o cemitério e lá chegando, Lúcia de mãos dadas com o filho, pergunta a um dos parentes: - ele não era casado né? A mãe dele onde está?

O tio do Fabrício indica onde esta dona Esther; Lúcia, sob o olhar atento do sargento se dirige até ela e fala: dona Esther, meus pêsames! A senhora não me conhece, mas sabe, eu devo muito a seu filho... este aqui ao meu lado é o meu filho, a minha vida e ele só está comigo hoje, porque ontem seu filho (354) sacrificou a vida dele pela do meu filho! A senhora deve ter muito orgulho dele... assim como eu tenho!

(355) Dona Esther nada conseguiu falar; com lagrimas rolando pela face, se levantou, abraçou Lúcia e depois abraçou Toninho, que com seus pequenos olhos, também com lágrimas, olhou profundamente nos olhos daquela mãe e falou: (356) muito obrigado pelo seu filho!

A tristeza, por alguns minutos desapareceu (357) dando lugar a emoções muito fortes, sentimentos de paz e agradecimentos a Deus, pois que sacrifícios muitas vezes acontecem pela grandeza da alma de quem o pratica para beneficio de outros.

XIX

Em outro cemitério, Sílvia extenuada, não conseguia acreditar no que estava acontecendo; fora avisada de madrugada e desde então, não conseguiu mais sossego. Graças à ajuda de amigos, as providências foram mais rápidas e o corpo logo liberado.

Carlos também foi avisado pelo empregado da empresa que Augusto, seu sócio foi assassinado e rapidamente retornou e foi providenciar o translado do corpo para a cidade onde morava a irmã de Augusto: Paula, única parente viva; após, dirigiu-se ao cemitério onde estava sendo velado o corpo de Jardel, com quem só se relacionava socialmente, sendo o motivo maior, (358) confortar Sílvia.

Sílvia, de cabeça baixa, não esperava ver Carlos e, quando ele entrou na sala, nova mistura de emoções e sentimentos deixaram-na atordoada e em prantos.

Carlos carinhosamente a abraçou e tentou consolá-la mas nada do que acontecia estava fazendo sentido para Sílvia, que se sentia cada vez mais sufocada. Carlos , percebendo sua agonia e uma (359) provável síncope, convidou-a para caminhar um pouco.

De braço dado com Carlos , Sílvia contou suas agruras ocorridas nas últimas horas.

-Olha Carlos, foi horrível! Em plena madrugada (360) você é acordada pela polícia batendo na sua porta, trazendo um noticia como essa... eu ainda não entendi o que aconteceu e acho que jamais entenderei! Eu só queria acordar desse pesadelo...

-Sílvia, eu também ainda não sei o que aconteceu de verdade para acabar assim; mas vamos dar um tempo que é possível que a polícia acabe por descobrir o que motivou essa selvageria toda. Augusto! Jardel... Na verdade eu não sabia que eles se conheciam...

-Eu os ví conversando algumas vezes no clube, mas só! Não sei o que eles poderiam ter em comum, já que Augusto era solteiro,vivia cercado de mulheres e com atividades muito diferentes das de Jardel! Enfim, de nada adianta tudo isso, pois não os trarão de volta à vida...

-É verdade Sílvia! Você perdeu o seu marido e eu, o Augusto, meu sócio e um grande amigo! Mas me diga: qual era a atividade de Jardel? O que é que ele fazia?

-Jardel era empresário, um merchandise: negociava obras de arte do mundo todo com todo mundo... sempre se deu bem!

-Então ele te deixou bem?

-Com certeza, Carlos! Mas eu nunca precisei do dinheiro do Jardel; tenho o que meus pais me deixaram e tenho meu negócio também. Posso dizer que (361) sou privilegiada neste mundo de necessitados!

-Isso é bom Sílvia; uma coisa a menos para se preocupar...

-E você Carlos? Como está se sentindo agora? (362) Já conseguiu aceitar os fatos? Decidir o que fará?

-A medida que o tempo passa, a dor diminui, a gente começa a aceitar mais facilmente... enfim, a vida continua.

Caminham mais um pouco sem nada falarem, até que Sílvia retoma o diálogo:

-Carlos, precisamos voltar! Obrigado pela ajuda; já estou bem melhor! Me afastar um pouco, ajudou bastante.

-Ok! Se você está melhor, retornemos.

Durante as cerimônias que se seguiram, Carlos permaneceu ao lado de Sílvia, amparando-a sempre que necessitava e, após o enterro a levou até sua casa.

Então Sílvia, o que fará agora?

Vou pegar algumas peças de roupas e vou para um hotel; não quero ficar aqui hoje.

Carlos, a olhou e disse: Sílvia, se você quiser ficar na casa de praia, eu posso levá-la até lá, pego minhas coisas e retorno; afinal já consegui me recompor...

-De forma alguma, Carlos; (363) não estou afim de ficar longe e sozinha hoje. Aqui pelo menos, se eu me sentir deprimida desço ao saguão do hotel; saio; sei lá... faço alguma coisa...

-Bom, responde Carlos, se minha companhia te for suficiente, podemos ir para a casa de praia, assim quem sabe amanhã, você me mostra aqueles locais secretos?

-Essa é uma boa opção Carlos! Se você me esperar só um pouquinho, pego algumas roupas e já desço.

Ao chegarem á casa da praia, já tinha escurecido; Sílvia tinha dormido toda a viagem e após arrumarem os quartos e fazerem um lanche, Sílvia pediu desculpas a Carlos e disse que precisava dormir um pouco.

No dia seguinte, são quase onze horas da manhã quando Sílvia acorda; toma um banho e vai para a sala onde encontra Carlos preparando o café: - Bom dia Carlos! Acordou agora também?

- Não Sílvia, já me acostumei ao ritmo deste tipo de vida: acordei as seis, fiz um lanche rápido e fui caminhar pela praia... o café agora é para você!

- Obrigado Carlos, você é muito gentil!

-Venha tomar um café e então poderemos dar uma caminhada pela praia, se você quiser.

A caminhada, um almoço simples mas bem feito, o descanso na rede, um mergulho para recompor foram os ingredientes para minimizar a dor sofrida horas antes.

-(364) Que bom mergulhar, Carlos; deixei uma tonelada no mar, falava Sílvia enquanto ambos, sentados na areia olhavam o sol que começava a se pôr.

-É verdade! Tudo isso aqui parece um outro mundo; parece que nossa realidade não existe! (365) Que a realidade única é esta!

-È verdade Carlos! Não fosse tudo que aconteceu...

-Concordo! Mas como você mesma disse: São coisas da vida, que apesar de tristes, ocorrem para que coisas melhores nos aconteçam.

-É Carlos... mas sabe que (366) eu realmente acredito que assim seja! O triste é que eu perdi Jardel de uma maneira muito cruel, embora sabendo que hora ou outra (367) acabaríamos nos separando! Já não existia mais amor entre nós; eramos amigos e só! Cada um vivendo sua vida sem um envolvimento maior...

-Sinto muito por vocês, Sílvia. A história de você e do Jardel é como uma sinfonia inacabada, cujo final jamais será composto, pois falta uma das partes.

-Você (368) dá um valor muito grande ao casamento, não dá Carlos?

-Sempre achei que um casamento deveria (369) ser forte, constante, equilibrado, pois se no começo existe paixão que com o tempo acaba ou enfraquece, outras virtudes ou sentimentos acabam por substituí-la; a amizade, a convivência, a conivência, o respeito, sinceridade, o apoio mutuo, acabam por criar (370) o que efetivamente se chama de amor que com o passar dos anos se torna mais e mais forte. Essa é a minha lógica...

-Infelizmente Carlos, a rotina e a monotonia (371) acabam por minar o casamento e a menos que ambas as pessoas pensem da mesma maneira, o rompimento acaba por acontecer. A última vez que eu e Rangel transamos foi algumas horas antes da morte dele... teve um sabor meio amargo... daí, fazer o que? (372) Se há interesse de ambos, pode-se tentar avançar com o relacionamento; se ambos o perdem, então não há porque insistir.

A rotina simples e despreocupada dos dias que se seguiram, permitiram que Carlos e Sílvia se recuperassem dos dissabores sofridos e fazendo com que a alegria fizesse parte mais intensamente daqueles momentos.

-Sílvia, você havia prometido me mostrar alguns locais especiais, secretos...

-É verdade! Olhe, subindo esse morro tem o meu espaço preferido! É um pouco difícil de chegar lá, mas vale a pena.

-Como é que você descobriu esses lugares Sílvia?

-Quando eu tinha (373) meus doze, treze anos, todos os finais de semana e durante as férias, meus pais, eu, meu irmão e meus primos vínhamos para aqui; as brincadeiras impulsionadas pela curiosidade e pelo espirito de aventura nos levou a conhecer diversos lugares nas redondezas que são verdadeiras maravilhas.

-É! Tem que ser secreto mesmo, Sílvia! Passar por essa floresta não é muito fácil não!

-Ainda não chegamos na parte mais difícil... disse Sílvia sorrindo. - Um pouco mais adiante, precisaremos subir por um local um pouco ingrime e com uma vegetação mais cerrada; depois chegamos ao tope de onde você já poderá ver meu espaço preferido...

Assim, de escorregão em escorregão e muitos risos, Sílvia e Carlos chegaram ao tope de onde podiam ver uma obra de arte da natureza; (374) um pouco abaixo, como que formando um pequeno vale, havia uma cachoeira e um rio em cujas margens pedras dividiam o espaço com a vegetação nativa onde muitas flores se sobressaiam . A luz do sol que batia sobre a água da cachoeira, formava diversos arco-íris, o que dava ao local, um aspecto de cenário de conto de fadas, dada a sua beleza.

-Sílvia! Que coisa mais linda! Parece que estou vendo um outro mundo... como se pode descrever tudo isso?

-É muito difícil Carlos! (375) Não há palavras que traduzam toda a concepção que a natureza aplicou para criar esse lugar; assim o que nos resta é curtir!

Ao chegarem nas margens do rio, que parecia uma piscina natural, Sílvia não pensou duas vezes; tirou todas as suas roupas e mergulhou. Carlos, subiu em uma pedra e ficou olhando Sílvia sob a aguá; nada do que ele via, parecia real. A beleza daquele lugar, as águas límpidas e transparentes refletiam o azul do céu, a cachoeira e parte da vegetação como se fosse um grande espelho e, em meio a essa imagem, Sílvia nadava como se dançasse, ora no céu, ora sobre as pedras, ora sobre as árvores, num espetáculo indescritível! No meio do rio, Sílvia, completamente integrada à natureza que os cercava, olhava para Carlos e com um sorriso (376) levantou o braço chamando-o para junto dela. Carlos meneou a cabeça negativamente; Sílvia gritou para ele: - Venha Carlos! Não seja tímido! Estamos a sós aqui! Venha!

Não havia como recusar aquele convite. Carlos desceu da pedra, tirou a roupa e mergulhou na direção de Sílvia. Embora distante, Carlos conseguia enxergar perfeitamente onde ela estava e, olhando de baixo para cima, ele a via como se estivesse planando no céu; as imagens se misturavam de uma forma única. Ao chegar perto de Sílvia, Carlos voltou à superfície, aparecendo em frente a ela, que o olhava sorrindo. A sós naquele lugar, permaneceram se olhando por vários minutos, como que conversando silenciosamente. Sílvia, (377) tomando a iniciativa, se aproximou de Carlos tirando os cabelos da sua testa e passando os dedos por entre os fios. Colocou os braços sobre os ombros de Carlos que também começava a abraçá-la pela cintura. Aquele pequeno paraíso era somente deles; naquele momento se tornavam um junto à natureza.

XX

Longe dali, enfrentando os problemas de seus clientes, Julio iniciava o segundo atendimento ao Dru: - Então, meu amigo? Como passou estes últimos três dias?
A aplicação da Reflexologia Podal te ajudou o suficiente?
- É... ajudou sim, Julio. Como passei pela desintoxicação na clinica do meu tio, a aplicação que você fez me ajudou a permanecer mais tranqüilo que das outras vezes;(378) mas hoje já estou me sentindo cansado, irritado; parece que está faltando alguma coisa...
(379) - É assim mesmo, mas com persistência, venceremos! Hoje aplicarei a reflexologia podal novamente e iniciarei a auriculoterapia.
Dru, meio ressabiado, interpela Julio: - Vai me colocar essas agulhas aí é? Não gosto disso aí não... não tem outro jeito?
Julio sorrindo reponde: - Não se preocupe Dru! Não há necessidade de utilizarmos qualquer tipo de agulha ainda; nesta aplicação utilizaremos sementes de mostarda para ativar seus pontos auriculares e nada mais.
- Ah, bom! Melhor então! (380) E isso vai fazer eu me sentir mais tempo tranqüilo? Sem necessidade de nenhum barato?
Esperemos que sim, Dru; a reflexologia deverá manter teu bem estar e a auriculoterapia por ser mais pontual, reafirmará essa condição, ao tempo que tornará menos sensíveis alguns sistemas do teu organismo.
Após realizadas as aplicações, Julio perguntou: - Então Dru, como se sente?
- Estou me sentindo bem, mas não é a mesma sensação que da primeira vez; (381) na primeira parecia que eu estava leve, flutuando e agora não! Porque?
- Na primeira aplicação que foi somente reflexologia, o teu organismo estava com toxinas, cansado por tentar se manter equilibrado frente aos desequilíbrios provocados pela ação de drogas fortíssimas! Os desequilíbrios permanecem, mas agora em diferentes condições e intensidades, ou seja: teu organismo está mais limpo, mais equilibrado, mais próximo da normalidade. (382) Por isso, a impressão de que nada aconteceu, entendeu?
- É... Ok! Vamos ver...
- Dru, nos veremos na próxima terça-feira, para reavaliarmos o caminho proposto. Mas se durante essa semana (383) você se sentir compelido a fazer uso de qualquer substância, me telefona, por favor!
- Tudo bem, não se preocupe! Deixa comigo! Até...
Após a saída de Dru, Julio permanece pensativo pois sabe que as coisas não são bem assim.

XXI


Imerso em seus pensamentos, Julio não percebeu a presença de Sarah, que o olhava divertida: - Ei, cara! Tá na lua?
- Oi, Sarah! Desculpe! (384) Estava pensando que custa muito pouco para uma situação favorável mudar completamente.
- É, faz parte Julio... mas está tudo bem?
- Sim, está! São só divagações.
- Menos mal... Toma um chá comigo, senhor Julio?
- Taí uma boa pedida, minha cara senhora; Vamos lá!
- Julio, há alguns dias atrás você me perguntou se eu acreditava em vidas passadas; tá lembrado?
- Sim, claro que lembro, por que?
- Porque desde aquele dia, esse assunto começou a se tornar (385) muito presente na minha vida. Naquela mesma noite, fui até a casa de uma prima minha que estava de aniversário e, como parte da família estava reunida, não demorou muito para que começassem as brincadeiras e as discussões sobre diversos assuntos; um deles era sobre vidas passadas que, levado como gozação por alguns foi defendido por um casal de tios meus como realidades da vida de todos os seres humanos; eles, inclusive, contaram situações vivenciadas por eles próprios dentro de uma associação de fatos cuja lógica os torna muito possíveis de ocorrerem. No dia seguinte recebi um convite de uma das minhas melhores amigas que há alguns anos atrás, foi morar e estudar na França, para assistir a uma palestra sobre terapia de vidas passadas, que ela apresentará na semana que vem, quando virá da Argentina, onde está fazendo o mesmo tipo de apresentações; ontem, ganhei um livro sobre Terapias de Vidas Passadas, de presente de um dos meus pacientes e, não bastasse tudo isso, recebi uma carta da Inglaterra mandada por um tal Willian Deffo, dizendo que ele gostaria de trocar correspondências comigo, pois a sua pesquisa indicava que fomos irmãos no século XVII e que ele gostaria de saber o que tem de verdadeiro em toda essa situação. Daí eu te pergunto: (386) coincidências?
- Por certo que não, Sarah; (387)coincidências para mim não existem! Nesta vida tudo tem um porquê! Me parece que você está adentrando uma nova fase em sua vida, onde etapas de períodos já vívidos em vidas anteriores, principalmente os mais delicados ou traumáticos precisam ser, por assim dizer “revividos”.
- Sinceramente Julio, (388) estou em dúvidas... mas agora preciso voltar! Será que você poderia me ajudar nessa história toda? Pelo menos até eu encontrar algo mais consistente?
- Com certeza, Sarah; pode contar comigo!


A CONTINUAR...